quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É NATAL!

A todos que estiveram aqui no Recanto desejo um Feliz Natal, com muita alegria e fraternidade.

Que Jesus, o aniversariante não seja esquecido e que ele abençoe seus lares, famílias e traga leveza a suas vida.

Abraços,

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

UMA VISITA INESPERADA

Foi numa noite de Natal. Um anjo apareceu a uma família muito rica e falou para a dona da casa.

- Trago-te uma boa notícia: esta noite o Senhor Jesus virá visitar a tua casa!

Aquela senhora ficou entusiasmada. Jamais acreditara ser possível que esse milagre acontecesse em sua casa. Tratou de preparar um excelente jantar para receber Jesus. Encomendou frangos, assados, conservas, saladas e vinhos importados.
De repente, tocaram a campainha. Era uma mulher com roupas miseráveis, com aspecto de quem já sofrera muito.

- Senhora, - disse a pobre mulher - será que não teria algum serviço para mim? Tenho fome e tenho necessidade de trabalhar.

- Ora bolas! - retorquiu a dona da casa. Isso são horas de me vir incomodar? Volte outro dia. Agora estou muito atarefada com um jantar para uma visita muito importante.

A pobre mulher retirou-se. Um pouco mais tarde, um homem, sujo de óleo, veio bater-lhe à porta.

- Senhora, - disse ele, O meu caminhão avariou aqui mesmo em frente à sua casa. Não teria a senhora, por acaso, um telefone para que eu pudesse comunicar com um mecânico?

A senhora, como estava ocupadíssima em limpar as pratas, lavar os cristais e os pratos de porcelana, ficou muito irritada.

- Você pensa que minha casa é o quê? Vá procurar um telefone público... Onde já se viu incomodar as pessoas dessa maneira? Por favor, cuide para não sujar a entrada da minha casa com esses pés imundos!

E a anfitriã continuou a preparar o jantar: abriu latas de caviar, colocou o champanhe no frigorífico, escolheu, na adega, os melhores vinhos e preparou os coquetéis.

Nesse momento, alguém lá fora bate palmas. “Será que agora é que é Jesus?” -pensou ela, emocionada. E com o coração a bater acelerado, foi abrir a porta. Mas decepcionou-se: era um menino de rua, todo sujo e mal vestido...

- Senhora, estou com fome. Dê-me um pouco de comida!

- Como é que eu te vou dar comida, se nós ainda não jantámos?! Volta amanhã, porque esta noite estou muito atarefada... não te posso dar atenção.

Finalmente o jantar ficou pronto. Toda a família esperava, emocionada, o ilustre visitante. Entretanto, as horas iam passando e Jesus não aparecia. Cansados de tanto esperar, começaram a tomar aqueles coquetéis especiais que, pouco a pouco, já começavam a fazer efeito naqueles estômagos vazios, até que o sono fez com que se esquecessem dos frangos, assados e de todos os pratos saborosos.

De madrugada, a senhora acordou sobressaltada e, com grande espanto, viu que estava junto dela um anjo.

- Será que um anjo é capaz de mentir? - gritou ela. Eu preparei tudo esmeradamente, aguardei a noite inteira e Jesus não apareceu. Por que é que você fez essa brincadeira comigo?

- Não fui eu que menti... Foi você que não teve olhos para enxergar. - explicou o anjo. - Jesus esteve aqui em sua casa três vezes: na pessoa da mulher pobre, na pessoa do motorista e na pessoa do menino faminto, mas a senhora não foi capaz de reconhecê-lo e acolhê-lo em sua casa.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

HISTÓRIA DO NATAL DIGITAL

Sempre imagino... se houvesse a internet na época da chegada de Jesus... como seria???

Agora descobri um vídeo que matou minha curiosidade - é muito interessante.

Não deixem de ver: http://www.youtube.com/watch?v=tgtnNc1Zplc

Como eu, vão adorar!!!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

RECONSTRUINDO O MUNDO

O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturbá-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha - que mostrava o mapa do mundo - cortou-a em vários pedaços, e entregou-a ao filho.

“Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue montá-lo exatamente como é”.

Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia.

Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.

“Sua mãe andou lhe ensinando geografia?”, perguntou o pai, aturdido.

“Nem sei o que é isso”, respondeu o menino. “Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo”.

(Paulo Coelho)

domingo, 5 de dezembro de 2010

LIU WEI - Um vencedor na vida e na música

Liu Wei nascido em Pequim, perdeu os braços em um acidente aos 10 anos. Ele nunca desiste de viver. Tudo que ele faz, ele faz muito bem com os pés. Seu sonho é se tornar um músico. Liu começou a aprender a tocar piano aos 19 anos, agora ele tem 22 anos e ganhou fama na China no programa Got Talent Show realizado no dia 10 de outubro de 2010.


No programa, ele tocou piano e cantou a canção "You Are Beautiful" no final. O poder de sua voz e a inspiração de seu entusiasmo pela vida lhe deram a vitória no final. O jovem pianista Liu Wei, em entrevista, disse que o seu lema é: "Eu tenho duas opções - posso morrer o mais rápido possível, ou eu posso viver uma vida brilhante. E eu escolhi a segunda opção. "

Confira o vídeo da performance de Liu em talentos da China. 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

UNIÃO



Um raminho de chama na lareira

Não faz fogo de lenha.

São os galhos acesos,

todos juntos, que dão luz e calor.

Alguns se apagam,

ao passo que outros se acendem de novo,

e a cinza é misturada às chamas.

Assim é nossa vida,

de chamas e cinzas...

Mas o fogo nunca morre,

Pois juntos nos consumimos...

Juntos iluminamos e passamos calor...

(Michel Quoist)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ESPÍRITO NATALINO

O conto a seguir é belíssimo e uma sugestão para o Natal. Ele mostra o verdadeiro significado do Natal, que vai muito além das correrias no shopping... Levar alegria a alguém, realizar um sonho pode não ser difícil; a alegria montando uma simples sacolinha para uma criança que pou tem é bem maior do que a compra de um presente caro para alguém que nem vai se importar... já tem tanta coisa...

"É apenas um pequeno envelope branco pendurado entre os galhos da nossa árvore de Natal. Não tem nome, não tem identificação, não tem dizeres. Se esconde entre os galhos da nossa árvore ha cerca de dez anos.


Tudo começou porque meu marido Mike odiava o Natal. Claro que não era o verdadeiro sentido do Natal, mas seus aspectos comerciais: gastos excessivos, a corrida frenética na ultima hora para comprar uma gravata para o tio Harry e o talco da vovó, os presentes dados com uma ansiedade desesperada porque não tínhamos conseguido pensar em nada melhor.


Sabendo como ele se sentia, um certo ano decidi deixar de lado as tradicionais camisetas, casacos, gravatas e coisas no gênero. Procurei algo especial só para o Mike. A inspiração veio de uma forma um tanto incomum. Nosso filho Kevin, que tinha 12 anos na época, fazia parte da equipe de luta livre da sua escola.

Pouco antes do Natal, houve um campeonato especial contra uma equipe patrocinada por uma igreja da parte mais pobre da cidade. Esses jovens, que usavam tênis tão velhos que tínhamos a sensação de que os cadarços eram a única coisa que os segurava, contrastavam de forma gritante com nossos filhos, vestidos com impecáveis uniformes azuis e dourados e tênis especiais novinhos em folha.


Quando o jogo começou, fiquei preocupada ao notar que a outra equipe estava lutando sem o capacete de segurança que tinha como intuito proteger os ouvidos dos lutadores. Era um luxo ao qual a equipe dos pé-sujos não podia se dar.


No fim das contas, a equipe da escola do meu filho acabou arrasando com eles. Ganharam em todas as categorias de peso. E cada um dos meninos da outra equipe que levantava do tatame se virava com fúria, fazendo pose de valente, procurando mostrar um orgulho de quem não ligava para a derrota.


Mike, que estava sentado ao meu lado, balançou a cabeça, triste: "Queria que pelo menos um deles tivesse ganhado", disse. "Eles têm muito potencial, mas uma derrota dessas pode acabar com o ânimo deles."

Mike adorava crianças - todas as crianças - e as conhecia bem, pois tinha sido técnico de times mirins de futebol, basquete e vôlei. Foi aí que tive uma idéia para o presente dele. Naquela tarde, fui a uma loja de artigos esportivos e comprei capacetes de proteção e tênis especiais que enviei, sem me identificar, à igreja que patrocinava a equipe adversária.

Na véspera de Natal, coloquei o envelope na árvore com um bilhete dentro, contando ao Mike o que tinha feito e que esse era o meu presente para ele. O mais belo sorriso iluminou o seu rosto naquele Natal. Isso se deu em todos os anos consecutivos.


A cada Natal, eu seguia a tradição: uma vez comprei ingressos para um jogo de futebol para um grupo de jovens com problemas mentais, outra vez enviei um cheque para dois irmãos que tinham perdido a casa num incêndio na semana antes do Natal e assim por diante. O envelope passou a ser o ponto alto do nosso Natal. Era sempre o último presente a ser aberto na manhã de Natal. Nossos filhos, deixando de lado seus novos brinquedos, ficavam esperando ansiosamente o pai pegar o envelope da árvore e revelar o que havia dentro.

As crianças foram crescendo e os brinquedos foram sendo substituídos por presentes mais práticos, mas o envelope nunca perdeu seu encanto. Esse conto não acaba aqui. Perdemos nosso Mike ano passado por causa de um câncer. Quando chegou a época do Natal, eu ainda estava sofrendo tanto que mal consegui montar a árvore. Mas, na véspera de Natal, me vi colocando um envelope na árvore. Na manha seguinte, havia mais três envelopes junto a ele. Cada um de nossos filhos, sem o outro saber, tinha colocado um envelope na árvore para o pai.

A tradição cresceu e, um dia, se expandirá ainda mais e nossos netos se reunirão em volta da árvore, ansiosos para saber o que há no envelope retirado da árvore por seus pais. O espírito de Mike, assim como o espírito do Natal, estará sempre conosco.

Vamos todos lembrar de Jesus, que é o motivo dessa comemoração e o verdadeiro espirito do Natal este ano e sempre. Deus o abençoe."

(Do livro Histórias para Aquecer o Coração, de Jack Canfield)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O CAMPEADOR COM AS RÉDEAS DO TEMPO

Quando os ventos chegarem
na terra forte,
quando as nuvens rolarem
sobre as nuvens
e o vento se deslocar
sobre o vento,
o sonho tombará o sonho,
reverdecendo.

Quando o vento se deslocar
sobre o vento
na terra forte,
os homens serão setas no tempo.
O tempo destila o tempo.

Os ventos serão asas,
os homens serão ventos,
as noites serão as noites
dentro das noites,
as casas
dentro dos homens,
o tempo.

A morte sempre vivida
é vida multiplicada.

Nada,
nem a lentidão do drama,
o curto espaço
em que habitava,
o fio da espada,
nem os trópicos,
nada embaciava
aquela onda :
o Cavaleiro e sua jornada.

As pedras se transformam
em astros longe ventando,
os pássaros retomam
os horizontes de vento.

As noites passam
dentro das noites
e os ventos dentro
dos ventos.

A morte sempre vivida
é vida multiplicada.

O vento é o vento ,
a vida é noite
cheia de ventos,
porém ao vento
como encontrá-lo ?
Na sombra branca ,
na sombra branca,
na sombra branca de seu cavalo.

O vento é o vento;
as crinas não rompem
o silêncio
e ao seu galope
retumba a água,
prossegue sempre,
até que o tempo
desmonte a morte,
no seu galope,
desmonte o tempo.
Prossegue sempre.

Quando os ventos forem caminhos
e os ventos-ventos forem sementes,
quando os cavalos forem moinhos
e a noite negra for transparente.

Quando os ventos forem caminhos,
quando os barcos forem poente,
quando os cavalos forem moinhos,
moendo a noite tranquilamente.

Quando os ventos forem caminhos,
a vida cheia de ventos
na vida feita semente,
moendo o jugo com seus dentes.

Quando os ventos forem caminhos,
seremos ventos e ninhos,
sombras esguias, ventos-moinhos,
moendo a noite nos seus caminhos.

(Carlos Nejar)

A HORA DO CANSAÇO

As coisas que amamos, as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável no limite de nosso poder.

De respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.

De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca, na mente,
sei lá, talvez no ar.

(Carlos Drumond de Andrade)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

NÃO DEIXE O AMOR PASSAR

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O AMOR.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.


(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 13 de novembro de 2010

CANTIGA PARA NÃO MORRER

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

(Ferreira Gullar)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A BRUSCA POESIA DA MULHER AMADA


A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio
É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite
E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada
É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos
astros.

Não há solidão sem que sobrevenha a mulher amada
Em seu acúmen. A mulher amada é o padrão índigo da cúpula
E o elemento verde antagônico. A mulher amada
É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro
No sem tempo. A mulher amada é o navio submerso
É o tempo submerso, é a montanha imersa em líquen.
É o mar, é o mar, é o mar a mulher amada
E sua ausência. Longe, no fundo plácido da noite

Outra coisa não é senão o seio da mulher amada
Que ilumina a cegueira dos homens. Alta, tranquila e trágica
É essa que eu chamo pelo nome de mulher amada.
Nascitura. Nascitura da mulher amada
É a mulher amada. A mulher amada é a mulher amada é a mulher amada
É a mulher amada. Quem é que semeia o vento? - a mulher amada!

Quem colhe a tempestade? - a mulher amada!
Quem determina os meridianos? - a mulher amada!
Quem a misteriosa portadora de si mesma? A mulher amada.
Talvegue, estrela, petardo
Nada a não ser a mulher amada necessariamente amada
Quando! E de outro não seja, pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda
O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta
Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.
Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!

(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DAS VANTAGENS DE SER BOBO

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo, estou pensando.”

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais vale comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar,e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.

O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros.

Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

......

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu amo tudo o que foi,

Tudo o que já não é,

A dor que já me não dói,

A antiga e errônea fé,

O ontem que dor deixou,

O que deixou alegria

Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia.

(Fernando Pessoa - 1931)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A VIDA ENSINA

Se você pensa que sabe; que a vida lhe mostre o quanto não sabe.

Se você é muito simpático mas leva meia hora para concluir seu pensamento; que a vida lhe ensine que explica melhor o seu problema, aquele que começa pelo fim.


Arthur da Távola

Se você faz exames demais; que a vida lhe ensine que doença é como esposa ciumenta: se procurar demais, acaba achando. Se você pensa que os outros é que sempre são isso ou aquilo; que a vida lhe ensine a olhar mais para você mesmo.


Se você pensa que viver é horizontal, unitário, definido, monobloco; que a vida lhe ensine a aceitar o conflito como condição lúdica da existência.Tanto mais lúdica quanto mais complexa.

Tanto mais complexa quanto mais consciente.Tanto mais consciente quanto mais difícil.

Tanto mais difícil quanto mais grandiosa. Se você pensa que disponibilidade com paz não é felicidade; que a vida lhe ensine a aproveitar os raros momentos em que ela (a paz) surge.

Que a vida ensine a cada menino a seguir o cristal que leva dentro, sua bússola existencial não revelada, sua percepção não verbalizável das coisas, sua capacidade de prosseguir com o que lhe é peculiar e próprio, por mais que pareçam úteis e eficazes as coisas que a ele, no fundo, não soam como tais, embora façam aparente sentido e se apresentem tão sedutoras quanto enganosas. Que a vida nos ensine, a todos, a nunca dizer as verdades na hora da raiva.

Que desta aproveitemos apenas a forma direta e lúcida pela qual as verdades se nos revelam por seu intermédio; mas para dizê-las depois. Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la. Que aquele garoto que não come, coma.

Que aquele que mata, não mate. Que aquela timidez do pobre passe.

Que a moça esforçada se forme. Que o jovem jovie.

Que o velho velhe. Que a moça moce. Que a luz luza. Que a paz paze.

Que o som soe. Que a mãe manhe. Que o pai paie. Que o sol sole. Que o filho filhe. Que a árvore arvore.
Que o ninho aninhe. Que o mar mare. Que a cor core. Que o abraço abrace. Que o perdão perdoe.

Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos.

(Arthur da Távola)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"A morte torna a vida maravilhosa.
Porque vamos morrer precisamos poder dizer hoje que amamos,
fazer hoje o que desejamos tanto,
abraçar hoje o filho ou o amigo,
temos de ser decentes hoje,
generosos hoje,
felizes hoje."

(Lya Luft)

domingo, 31 de outubro de 2010

A PRESIDENTE DE TODOS NÓS





Dilma Rousseff acaba de ser eleita Presidente do Brasil, a presidente de todos nós: daqueles em quem nela voutaram e dos eleitores de José Serra.

Que ela possa ser uma grande presidente, que possa olhar pelo povo, por suas necessidades e desejos.

Que seu olhar feminino se apure cada vez mais para que veja com sensibilidade os problemas das mulheres, das crianças.

Que haja respeito, lealdade para com seus eleitores, para aqueles que nela votaram e também por aqueles que agora terão que olhá-la com outros olhos de esperança e expectativa.

Felicidade, Sra. Dilma Rousseff. Felicidades, Brasil.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ALGUMA COISA ACONTECE...

Alguma coisa acontece...
Talvez aquele apelo em forma de prece
que o tempo não conseguiu desgastar.
Talvez aquela ânsia de beleza
que mesmo nos momentos de tristeza
o peito se negou a apagar.

Alguma coisa acontece...
Num olhar que se cruza e não se esquece
deixando o pranto secar.
Talvez a danada saudade
num ímpeto de boa vontade
tenha feito morada em outro lugar.

Alguma coisa acontece...
Outra visão de amor aparece
no parêntesis da nova poesia.
Confrontam-se medo e coragem
no palco da velha miragem
esquecida no âmago da melancolia.

Alguma coisa acontece
no silêncio do mundo quando anoitece
fazendo brotar de novo a esperança.
E no deleite desse tolo momento
deixo vagar meu pensamento
e te encontro na mesma dança.

(Cleide Canton)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ANTES DO ANTES

Todos sabem: antes dos cientistas, antes dos fotógrafos, antes dos exploradores, nós, os desenhistas e escritores ditos de humor (na verdade a quintessência da seriedade) sempre chegamos antes ou fomos antes aonde não se achava possível.

Conversamos com os homenzinhos verdes de Marte antes dos cientistas, estivemos na lua antes dos astronautas, como antes penetramos nos porões de ditaduras, deixando registradas cenas horriphilariantes.

E até firmamos o princípio de que ''um tirano pode impedir uma fotografia, mas não pode evitar uma caricatura''.

Provando isso, agora, quando o novo Hubble parece ter fotografado um big-bang, republicamos este texto escrito há algumas décadas, pra mostrar que, nisso também, chegamos primeiro. Ou seja:

Além do infinito, tempos que ainda não se haviam iniciado, onde nem o nada ameaçava se tornar. Tempo inimaginável por ainda não existir imaginação, em plena vacuidade, no seio do incogitado, nicles patavina impalpável e intangível. É, não havia o primevo, nem o embrional: tudo (nada) sem transpiração, respiro, desova, parto, nenhuma exalação ou sopro ou brilho. Uma perpetuidade sem fim, sem margem, sem nascente ou ocaso, côncavo ou convexo, ilimitável porque ilimitada. Foi então (como então?) que O Que Não Existia pressentiu (como?) a Criação. Comunicou (como? a Vazio insubstancial sobre vazio absoluto, entre o inascido e o inascível, ponto inenditificável incomensuravelmente distante de onde as paralelas nem se prometiam no remoto, onde ninguém (e nem ninguém não existia ) perceberia a formação do ausente. quem?).

MORAL: DA VIDA NINGUÉM ESCAPA

(Millôr Fernandes)


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

EU APRESENTO A PÁGINA BRANCA

Eu apresento a página branca.

Contra:

Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema

Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio

Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares

Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen

Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede

água em abundância
água em excesso
água em palavras.

Eu apresento a página branca.
A árvore sem sementes.
O vidro sem nada na frente.

Contra a água.

(Arnaldo Antunes)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

AOS QUE SONHAM

Não se pode sonhar impunemente
Um grande sonho pelo mundo afora,
Porque o veneno humano não demora
Em corrompê-lo na íntima semente…

Olhando no alto a árvore excelente,
Que os frutos de ouro esplêndidos enflora,
O Sonhador não vê, e até ignora
A cilada rasteira da Serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo,
E lembra, a cada instante e a cada dia,
O que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
O calvário do filho de Maria
E a cicuta que Sócrates bebeu!

(Raul de Leoni)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TRÊS MÃES, TRÊS FILHOS

Três mulheres conversando ao lado de um poço. Um velho as escutava.


A primeira mulher dizia:
- Meu filho é muito forte, corre e pula.

A segunda dizia:
- O meu filho canta como os passarinhos.

A terceira mulher nada dizia, então o velho perguntou:
- Você não tem filhos?

Ela respondeu:
- Tenho, mas ele é um menino normal como todas as crianças.

As três mulheres pegaram seus potes cheios de água e foram caminhando. No meio do caminho, elas pararam para descansar e o velho homem sentou ao lado delas.

Logo elas viram seus filhos voltando para perto delas.

O primeiro vinha correndo e pulando, o segundo vinha cantando lindas canções.

O terceiro não vinha pulando nem cantando, ele correu em direção a sua mãe e pegou o pote cheio de água e levou para casa.

Então as três mulheres perguntaram para o velho homem:
- O que o senhor achou dos nossos filhos?

E o velho homem respondeu:
- Realmente, eu acabei de ver três meninos, mas vi apenas um filho.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

VOU-ME EMBORA PRA ARQUIBANCADA

Vou-me embora pra Arquibancada
Lá sou amigo do Rei
Lá tenho o futebol que eu quero
No estádio que escolherei
Vou-me embora pra Arquibancada

Vou-me embora pra Arquibancada
Aqui eu não sou feliz
Lá o drible é uma aventura
De tal modo inconseqüente

Que Garrincha algoz da Espanha
Senhor do tempo inclemente
Vem a ser contraparente
Do genro que nunca tive
E como farei mil gols
Leônidas e bicicleta
Zagueiros por meus escravos

Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na arquibancada
Mando chamar Mário Filho
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Nelson vinha me contar

Vou-me embora pra Arquibancada
Na Arquibancada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir segunda divisão

Tem gol de placa automático
Tem chopp gelado à vontade
Tem cheerleaders bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar

— Lá sou amigo do Rei —
Terei o troféu que eu quero
No estádio que escolherei
Vou-me embora pra Arquibancada.

* Homenagem a Manuel Bandeira que foi embora pra Pasárgada há 40 anos...
 
(Roberto Vieira)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

AMAR É SER FELIZ

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava,

tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.

O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.

A beleza não era nada.
Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.

Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.

Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.

O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.

O amor quer somente amar.

(Herman Hesse)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ORAÇÃO DO PROFESSOR


Mesmo que eu fale todas as línguas dos homens e dos anjos, se me faltar o amor, sou como um sino que tange.

Mesmo que eu deslumbre todos os alunos e lhes fale maravilhas sobre todos os temas,
se me faltar o amor para lhes chegar ao coração, com mensagem de verdade e vida,
sou como um disco a repetir palavras alheias, sem compromisso social.

Mesmo que eu consuma a saúde em anos de trabalhos no magistério, se não tiver amor, isto de nada me adianta, pois estou longe de meus alunos e lhes dou tudo que tenho,
exceto entregar-me a mim mesmo.

O amor é paciente e respeita o ritmo de crescimento de cada aluno.
O amor é serviçal e se entrega sem reservas.
O amor não é invejoso e reconhece, com alegria, todo o bom que existe no outro.

O amor não envaidece, porque dá com a simplicidade de irmão e com a simplicidade do povo.
O amor não busca os próprios interesses, pois quer o bem e o crescimento do outro,
a ponto de se esquecer de si mesmo.

O amor não se irrita, nem perde o controle e a paz diante dos defeitos do aluno;
corrige-o para seu bem e não para desafogar a própria impaciência.
O amor tudo desculpa, porque conhece e compreende o coração do homem.
O amor jamais cessará.

A docência é apenas uma tarefa no caminho.
Quando chegarmos à meta, não haverá sábios nem ignorantes, pois seremos todos irmãos.

E de tudo que houvermos semeado, só permanecerá o AMOR.

De: Eudália Moreira de Sampaio
Moraújo - CE

terça-feira, 12 de outubro de 2010

MANÉ FALA Ó


Uma das figuras mais interessantes e inesquecíveis da minha Campinas: Mané Fala Ó.

Ele vivia entre o Cambuí e o Taquaral, hoje Vila Tofanello. Andava de bonde e, toda moça que encontrava cumprimentava com um alegre  Ó. Moça feia virava moça bonita - Mané assim a transformava.

Percorria a cidade de bonde, de bicicleta e não havia que não o conhecesse. Até o Ó foi assimilado pela cidade... quem não é de lá estranha que ainda muitas moças, mulheres de cumprimento com um Ó em vez de Oi.

Mané era moço de bons costumes: era educado, não fumava e não bebia. Geralmente usava uma camiseta branca e sobre ela camisa xadrez. Nos pés: alpargatas.

Me lembro muito bem dele. Quando saía do Colégio Ateneu Paulista e ia até o centro pegar o bonde para casa, lá estava Mané esperando as moças com seu Ó e, quando ele não nos via quem o cumprimentava éramos nós: Ó Mané!!!

Hoje Mané não está mais por lá... foi falar Ó pra papai do céu... e Campinas ficou mais triste sem ele.

SOLTE ESSA CRIANÇA!!!

"Sou grato ao colo da minha mãe. Mas grato mais ainda sou à decisão que ela teve de me "soltar" para a vida

LEVEI MUITO A SéRIO na minha infância aquela ordem do Milton Nascimento: "Vida de moleque é vida boa. Vida de menino é maluquinha. é bente altas, rouba bandeira Tudo que é bom é brincadeira".

Na época, minha cadeira de rodas era praticamente uma jamanta de tão grande e desconfortável, mas nada me impedia de ser criança.

Ia para a rua nas férias de julho e soltava pipa até os beiços ficarem rachados de tanto vento na cara. E, com a molecada empurrando minha "embarcação", eu me embrenhava nos matos para brincar de desbravador.

Mesmo tendo as pernas ou a coluna engessadas para tentar reparar a funilaria amassada que a pólio me deixou, minha mãe não me impedia de visitar meu mundo imaginário ao lado dos meus amigos, todos "responsáveis", no alto de seus seis, sete, oito anos.

Aquele ritmo de viver só era quebrado quando aparecia pelo caminho um adulto chato para dizer: "Ele é doentinho? Nooossa, a perninha dele é tão fininha! ôh, sofrimento, né? Ele não pode ficar na rua, não!".

Lembro-me de ficar meio confuso e cheio de dúvidas com aquelas intervenções. Afinal, para mim, deficiência nunca foi uma doença, eu não me sentia triste com meus cambitinhos e tinha uma infância pra lá de legal, como deveria ser.

Criança pode até festejar ou estranhar as diferenças do amigo que é ceguinho, cadeirantinho, surdinho, mas logo ela deixa tudo para lá, porque o importante é saber brincar, é saber comer areia sem se engasgar, é saber imaginar os monstros e as fadas.

Mas o adulto... esse sim é um mala sem alça que quer proteger a todo o custo, que quer defender sem mesmo haver uma guerra. Se quem não cai não aprende a se levantar, quem não se levanta -por motivos diversos- só aprende que pode voar se não é cercado de um monte de galinha choca o tempo todo.

Foi moleque que descobri, aos pouquinhos, que eu não conseguiria ser o artilheiro do time, mas poderia me arriscar no gol fazendo defesas heroicas com meus braços longos. Foi moleque que percebi que não poderia correr no pique-esconde, mas poderia ser o fiscal da brincadeira para "ninguém roubar!".

Quando gente grande chegava no meio de minhas zoadas de crianças, só era legal quando inventava regras que me ajudavam a brincar "de igual para igual". Mas, quando a ideia era me fazer de "café com leite" porque eu, supostamente, era mais fraco, achava um saco.

Toda criança precisa de cuidados, de atenção, de guias para chegar com segurança às outras fases da vida. Sou grato ao colo da minha mãe, que foi a minha forma de locomoção até os seis anos de idade. Mas grato mais ainda sou à decisão que ela teve de me "soltar" para a vida, de me deixar ter sido criança."

Esse texto foi publicado no jornal FOLHA DE SÃO PAULO de hoje, 12.10.2010. E, me lembrei muito das atitudes de minha tia Dora com seu filho Adalberto (que todos chamavam de Beco e eu de Paquito - ele parecia um mexicano). Com sua perninha fraca ele andava de bicicleta, jogava bola, empinava pipa... Depois, com cadeira de rodas ia à praia, andava pelo bairro e os primos até faziam "cavalo de páu" com ela.

Agora, que ele voou para outro mundo, o que será que anda aprontando???

Paquito, minha lembrança, meu carinho, minha saudade... Felicidades, querido! Que sua criança continue a ser feliz, muito feliz!

sábado, 9 de outubro de 2010

PEZINHOS

Pezinhos de criança
azulados de frio
Como os vêem e não os cobrem,
Deus meu!

Pezinhos feridos
pelas pedras todas,
ultrajados de neves
e lodos!

O homem cego ignora
que por onde passais,
uma flor de luz viva
deixais;

Que ali, onde colocais
a plantinha sangrante,
o narco nasce mais
perfumado.

Sede, posto que marchais
pelos caminhos retos,
heroicos como sois
perfeitos.

Pezinhos de criança,
duas joinhas sofridas,
como passam sem ver
as pessoas!

(Gabriela Mistral)

Fonte: Poesia Latina
IMAGEM: do pintor Majid Arvari

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

VOTAR

Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama governo democrático, ou governo do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. foi publicado na revista "O Cruzeiro", no ano de 1947, com o objetivo de alertar os eleitores de então, quanto a importância do voto.

No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.

Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.

Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.

Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é grave a escolha desses "cobradores". Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.

E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aqueles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aqueles que vão "fabricar" o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos.

Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Eles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.

Não preciso explicar muito este capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.

Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as forças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias.

E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fez um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado.

Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão faze-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem.

Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a eles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.

Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva.

... o govêrno, quando é ruim, ele é que nos dá a surra, ele é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da boca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.

E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto.

Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem medo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno.

(Este texto, de Raquel de Queiroz foi publicado na revista "O Cruzeiro", no ano de 1947, com o objetivo de alertar os eleitores de então, quanto a importância do voto. A sua atualidade é incrível, 63 anos depois)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NÃO TEMA O ROMANTISMO

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça tiaras de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando. E olhe alegre para a vida.

Recomendam-se encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, "aquela conversa importante que precisamos ter"; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.

E nada de “precisamos discutir nossa relação”. Para quem ama feio, toda atenção é sempre pouca. E para quem ama bonito, qualquer atenção glorifica.

Não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como por exemplo, a sinceridade ou não dar certo ou depois vir a sofrer ou abrir o coração ou contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue para o alto estratagemas, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.

Seja você, cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.


Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou “bonitar” fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a expressão de tudo o que você é, e nunca deixaram, ou você não conseguiu, nem soube, ou vai ver que não pôde.

Não se preocupe demais com o amor e suas definições. Viva-o, tão somente.


Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você.

Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim aprender a fazer o outro feliz.

Afinal, se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.

(Arthur da Távola)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A BUSCA

Com a ação destruidora do tempo, minha janela cresceu.

E contemplei então, um ramo com muitas folhas.

E uma vasta expansão do céu, com muitas nuvens.

Esqueci a folha verde solitária e aquele pequeno espaço da imensidão azul.

Jurava que não existia a árvore, nem o céu imenso.

Para mim, era aquela a verdade.

Cansado da prisão, da estreita cela, revoltei-me contra minha janela.

Com os dedos a sangrar, arranquei tijolo após tijolo.

E contemplei então, a árvore inteira, seu tronco majestoso,

Seus ramos numerosos, suas miríades de folhas, e uma imensa parte do céu.

Jurava que não existia outra árvore, nem outra parte do céu.

Era aquela a verdade.

Aquela prisão já não me retém.

Saí a voar através da janela.

Ó amigo, agora contemplo todas as árvores e a vastidão do infinito.

E embora eu viva em cada folha e em cada nesga do vasto céu azul,

Embora eu viva em cada prisão a espreitar por estreitas frestas, sou livre.

Não! Nada mais me prenderá- esta é a verdade.

(Krishnamurti)

domingo, 3 de outubro de 2010

SAUDADE DE OUTROS TEMPOS

Hoje, dia de eleições, bem que me bateu uma saudade das eleições de outros tempos, quando era mesmo uma festa!

Os debates eram quentes com Brizola se expressando com entusiasmo, agressividade e aquele seu jeitão encantador. Outros, como ele, colocavam calor aos debates, às eleições.

Havia boca-de-urna, bandeiras, carreatas, tudo na maior animação. Meu carro sempre tinha adesivos, bandeiras, santinhos...

Agora os candidatos parecem mais executivos pleiteando um cargo... Mas, é o progresso...

Porém, que as eleições eram mais animadas com as militâncias nas ruas, ah, eram mesmo...

Tenho saudade, e daí???

Outubro é rosa

Minha amiga Cris Borrego se lembrou que o mês de outubro é rosa.

Rosa porque é o mês é mundialmente conhecido como sendo o mês da prevenção do câncer de mama

Se quiser mais informações, clique no link abaixo

http://www.bymk.com.br/looks/944317

VAMOS DIVULGAR, VAMOS PREVENIR!!!