sábado, 29 de outubro de 2011



“Você pode controlar um elefante enlouquecido;
Pode calar um urso ou um tigre; ...
Pode montar num leão ou brincar com uma naja;
Você pode ganhar a vida como um alquimista;
Pode passear pelo cosmos incognito;
Fazer os deuses trabalharam por você;
E nunca envelhecer;
Pode andar sobre a água e suportar o fogo;
Mas controlar a mente é muito melhor e muito mais difícil.”

― Paramahansa Yogananda

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A MENTIRA DESCOBERTA

O  Dr.  Arun  Gandhi,  neto  de Mahatma Gandhi e fundador do Instituto M.K. Gandhi  para  a  Vida  Sem  Violência,  em  sua  palestra de 9 de junho, na Universidade  de  Porto Rico, compartilhou a seguinte história como exemplo da vida sem violência exemplificada por seus pais:

Eu  tinha  16 anos e estava vivendo com meus pais no instituto que meu avô havia fundado, a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul, em meio a plantações de cana de açúcar.

Estávamos  bem  no  interior do país e não tínhamos vizinhos. Assim, sempre nos  entusiasmava,  às duas irmãs e a mim, poder ir à cidade visitar amigos ou ir ao cinema.

Certo  dia,  meu  pai  me  pediu que o levasse à cidade para assistir a uma conferência  que duraria o dia inteiro, e eu me apressei de imediato diante da oportunidade.

Como  iria  à cidade, minha mãe deu-me uma lista de coisas do supermercado, as  quais  necessitava, e como iria passar todo o dia na cidade, meu pai me pediu  que me encarregasse de algumas tarefas pendentes, como levar o carro à oficina.

Quando me despedi de meu pai, ele me disse: 'Nós nos veremos neste local às 5 horas da tarde e retornaremos à casa juntos.'

Após,  muito  rapidamente,  completar  todas as tarefas, fui ao cinema mais próximo. Estava tão concentrado no filme, um filme duplo de John Wayne, que me esqueci do tempo. Eram 5:30 horas da tarde, quando me lembrei.

Corri  à  oficina,  peguei  o  carro  e  corri  até  onde meu pai estava me esperando. Já eram quase 6 horas da tarde.

Ele  me perguntou com ansiedade: 'Por que chegaste tarde?' Eu me sentia mal com  o  fato  e  não lhe podia dizer que estava assistindo um filme de John Wayne.  Então,  eu  lhe  disse que o carro não estava pronto e que tive que esperar...  isto  eu  disse  sem  saber  que meu pai já havia ligado para a oficina.

Quando  ele  se deu conta de que eu havia mentido, disse-me: 'Algo não anda bem,  na  maneira  pela qual te tenho educado, que não te tem proporcionado confiança em dizer-me a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado contigo. Vou caminhar as 18 milhas à casa e pensar sobre isto.'

Assim,  vestido  com seu traje e seus sapatos elegantes, começou a caminhar até  a  casa,  por  caminhos que nem estavam asfaltados nem iluminados.

Não podia deixá-lo só. Assim, dirigi por 5 horas e meia atrás dele... vendo meu pai sofrer a agonia de uma mentira estúpida que eu havia dito.

Decidi, desde aquele momento, que nunca mais iria mentir.

Muitas  vezes  me  recordo  desse  episódio  e  penso..  Se ele me tivesse castigado  do  modo  que castigamos  nossos filhos... teria eu aprendido a lição?... Não acredito... Se tivesse sofrido o castigo, continuaria fazendo o mesmo...Mas, tal  ação  de  não-violência  foi  tão forte que a tenho impressa na memória como se fosse ontem...

Este é o poder da vida sem violência.

domingo, 23 de outubro de 2011

                      

                        Me encante... 

Me encante da maneira que você quiser, como você souber.

Me encante, para que eu possa me dar.
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir, aquele sorriso malicioso e gostoso, inocente e carente.
Me encante com suas mãos, gesticule quando for preciso, me toque, quero correr esse risco.
Me acarinhe se quiser, vou fingir que não entendo, que nem queria esse momento.
Me encante com suas palavras, me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres, me conte segredos, sem medos ... e depois me diga o quanto eu te encantei.
Me encante com serenidade, mas não se esqueça, também tem que ser com simplicidade, não pode haver maldade.
Me encante com uma certa calma, não tenha pressa, tente entender a minha alma.
Me encante como você fez com a primeira namorada, sem subterfúgios, sem cálculos,
sem dúvidas, com certezas.
Me encante na calada da madrugada, na luz do sol ou embaixo da chuva e prometo
te encantar todos os dias, do resto das nossas vidas!!!
(Silvana Duboc)

http://www.slideshare.net/mimabadan/me-encante-silvana-duboc

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

TORRADAS QUEIMADAS



Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar.
E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho muito duro.
Naquela noite, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai.
Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato.
Tudo o que meu pai fez foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia na escola.
Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geleia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada.
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Adorei a torrada queimada..."
Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.
Ele me envolveu em seus braços e me disse:
" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada...
Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém.
A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas.
E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o melhor pai, mesmo que tente todos os dias!
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.
Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir as falhas do outro.
Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar cheiroso, de tão limpo.
Eu não sei fazer uma lasanha como ela, mas ela não sabe assar uma carne como eu.
Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo você tomava banho rápido, sem reclamar.
A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apoia, eu e ela nos completamos.
Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes.
Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo vá desmoronar, não vai.
Novamente teremos que aprender e nos adaptar para fazer o melhor.
De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.
Então filho, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem dedica o precioso tempo da vida, a você e ao próximo.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011


20 de OUTUBRO - DIA DO POETA

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
 Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
 E os que lêem o que escreve
 Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve
Mas só as que ele não têm
 E assim nas calhas de roda
 Gira, a entreter a razão
 Esse comboio de corda
 Que se chama coração

(Fernando Pessoa)


domingo, 16 de outubro de 2011

Salvador Dali - A persistência da Memória - 1931


O TEMPO

O bem mais valioso de nossa época não é o diamante nem o petróleo, a fórmula da Coca-Cola ou o sorriso da Natalie Portman: é o tempo. Obedecendo à lei da oferta e da procura, quanto mais escasso ele fica, mais caro nos é. A seca temporal é geral e irrestrita, tão democrática quanto a calvície, a saudade e a morte: eu não tenho tempo, você não tem tempo, o Eike Batista não tem tempo, o cara que está vendendo bala no farol, em agônica marcha atlética para recolher os saquinhos dos retrovisores, antes que abra o sinal, também não tem.

Como vocês devem saber, o principal sintoma desta doença crônica – sem trocadilho - é a ansiedade. Toda manhã, flagro-me aflito, escovando os dentes, com pressa. Vejo-me batendo os pés no hall, enquanto o elevador não chega. Até o segundo que o cursor do celular leva para piscar, num SMS, permitindo-me digitar outra letra da mesma tecla, deixa-me exasperado.

Antigamente, não era assim. Na minha infância, os dias tinham trinta horas, alguns chegando mesmo a quarenta, se bem me lembro. Não, não é que eu faça hoje mais coisas do que antes. Já pensei nisso, mas veja só quantas obrigações eu tinha no passado: cinco horas na escola, lição de casa, inglês, bateria, natação, jantar com os pais, toda noite, sem contar os séculos ao vivo ou ao telefone tentando convencer alguma menina a beijar-me na boca...

E, mesmo assim, ainda sobravam infinitos latifúndios improdutivos, impossíveis de se ocupar, por mais que assistisse televisão, tirasse cochilos vespertinos, lesse livros, fosse às casas dos amigos jogar videogame, falar mal dos outros ou simplesmente juntar nossos tédios, olhar as paredes e escutar o tic-tac dos relógios.

Das duas, uma: ou as horas eram mais abundantes do que hoje, ou, então, tinham uma incrível capacidade regenerativa, que perderam: a cada duas ou três horas mortas, uma nova hora nascia, fresquinha, como as células de uma pele jovem.

Acho que foi lá pelo ano dois mil que e o dia começou a encolher, chegando a essas míseras vinte quatro horas – com sensação térmica de dezesseis. Talvez tenha sido esse o verdadeiro bug do milênio: na virada de noventa e nove para o zero zero, todos os ponteiros, vendo-se livres do velho milênio e admirando o vazio que se abria adiante, como um retão num circuito de fórmula um, resolveram meter os pés no acelerador, de modo que acabamos assim, espremidos entre prazeres e obrigações, aflitos, escovando os dentes com pressa, andando em círculos, no hall do elevador.

Há quem diga que a culpa é da melhora das comunicações e, consequentemente, do envio de dados. Com a informação viajando tão rápido, desaprendemos a arte da espera. Antigamente, aguardar era normal. Estávamos sempre esperando alguma coisa chegar. Uma carta, pelo correio. Um disco, do exterior. Uma foto, um texto ou um documento, via portador.

Esses hiatos eram tidos como normais, uma brecha saudável, pausa para o cigarro ou o café, a prosa, a leitura de uma revista, o devaneio, a conversa na janela, a morte de bezerra. Hoje, não. Tá tudo aqui, e, se não está, nos afligimos. Queremos o pássaro na mão E os dois voando. Por que é que ainda não trouxeram esses dois que tão no céu, diabo?! Já não era melhor ter pego logo os três, de uma vez, otimizando custos e esforços?

Enquanto não descobrimos a cura para este mal, a única saída é aprender a lidar com ele. Há que cercar com muros altos certas horas do relógio, para que nada as possa roubar de nós. Fazer diques de pedra em torno da hora de ficar com nosso amor, da hora de trabalhar no projeto pessoal, da hora do esporte, de ler um livro, encontrar um amigo. Mesmo assim, vira e mexe, vêm as obrigações, como um tsunami, ou os eventos sociais, como meteoros, e derrubam as barragens. Não há nada a fazer, senão reconstruir os muros, ainda mais fortes do que antes.

Você sente a mesma coisa, ou sou só eu? Talvez seja só eu. Quem sabe, numa manhã de terça-feira, lá por 1998, eu tenha perdido a hora, para nunca mais a encontrá-la? Ficarei assim, trinta minutos atrás do resto do mundo, tentando alcançá-lo, ininterruptamente, como quem corre atrás de um trem, até o fim dos tempos. Será que foi isso?

(ANTONIO PRATA - publicada originalmente no blog Wish)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011



nenhum sonho foi mais longe
do que o amor que eu tive
nenhum ontem será mais hoje
do que a dor que ainda vive

(Antonio Thadeu Wojciechowski)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nossas Relações Sofistas?



·         J. C. Protheus Bortoloti



“... Amei até a loucura. O que chamam de loucura é,

para mim, a única forma sensata de amar....!



Françoise Sagan


                                 A pergunta tem-me sido feito constantemente. Como se fosse um expert de análise do assunto. Muito pelo contrário. Mas nas Últimas duas semanas, coincidência (não acredito nela) ou não a pergunta veio em cascata: O que esta acontecendo com as relações? Minha singela resposta: Nada!

Sim. Não está acontecendo nadinha. Sempre foram assim ou piores. Então, o que está mudando? E quem disse que está mudando?

Devido à libertação, conquistada, do pensamento feminino? Não. Pois, as relações homossexuais também têm problemas nas relações. Você poderá dizer: Ah, mas com eles, os homossexuais, são muito menores. Claro. Eles também são em menor número. Ao menos os oficiais.

Mas,  vamos por outro caminho.

Você sabe o que é sofismo?

 Sofisma  - fazer raciocínios capciosos. Em filosofia, é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verossímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular, uma ilusão de verdade, apresentando-a sob esquemas que aparentam seguir as regras da lógica. Nos dias de hoje seria quase que uma falácia.



Sintetizando: O sofisma aponta para a produção de uma ideia que mistura realidade e fantasia, ou verdade e mentira, com o  intuito de conquistar o ouvinte ou o outro lado.

Mas vamos parar por aqui na escola filosófica e retornar as nossas relações.

Você já identificou que fazemos isso?

O quê? O acima.

Não?

Vamos analisar juntos. Fazemos de tudo pela conquista (ambos os lados), viramos do avesso, sacrifícios enormes, e tudo o resto que cada um conhece a sua maneira.

Quando conquistamos ou queremos mudar ou o outro quer nos mudar. Já não servimos mais. Já não somos perfeitos, precisamos de alguns consertos.  E assim vai cada relação.

No fundo deixamos de ser nós mesmos em nome do tal de amor.



O que mudou?

Estamos nos conhecendo um pouco mais, estamos parando, mesmo que pouco, para pensar mais em nós mesmos. Adentrar nas entranhas  de nós mesmos é perigosíssimo. E um exercício para poucos. Mas alguns estão conseguindo. Outros não.



As pessoas estão se preocupando mais em ser do que ter o outro só por ter. Os amores ou são mais profundos, ou só ´fica´ , como dizem os adolescentes. Mesmo que ´ficar´ muitas vezes tenha tudo do resto de uma relação natural.E normal. Mas é do tipo – pode ser rompido a qualquer momento sem dano – parece que eles já descobriram, mas continuam procurando o grande amor.

Em seguida vem à outra pergunta, quase grudada na primeira: Mas porque é tão difícil dar certo?

Creio que esta inserida na primeira resposta. Queremos, tal qual uma transferência lacaniana, alterar, mudar, `aperfeiçoar´  o outro. No fundo estamos transferindo nossas inseguranças, pois quem realmente precisa de uma mudança geral por dentro, em todos os sentidos, é exatamente quem tenta mudar.

Mas e depois, vem a terceira:

Calma não termina assim tão fácil:

Mas quando está dando certo, porque nos acomodamos?

Bem, creio que é retórica. Pois a resposta esta inserida na própria pergunta. Eu diria que é pragmático, mas você responderia que seria puro exercício de semântica. Este comodismo, na verdade, significa que, no fundo, fizemos tudo, meramente emocional. Sim. O amor é racional. Nietzsche afirmou e morreu defendendo isso. Mesmo que apaixonado. Tudo bem. Nem ele foi perfeito em sua única tentativa de relação. Imaginária, já que só existiu na sua mente.

Pode ver que quando começa uma relação, ambos, querem saber tudo do outro. Mas tudo mesmo.  O argumento: conhecer o outro profundamente. Mentira. É apenas uma forma de ver se nossos defeitos poderão ser defrontados ou pior, confrontados, sem nenhum problema pelo outro lado. Ou controle. Agora quase opositor. E geralmente vamos à busca de todos os detalhes. Outra resposta: É para não errar!

Mentira. As perguntas são feitas porque sempre foram feitas. Amamos desta forma, pois sempre vimos, presenciamos, lemos que é assim. Nunca buscamos o nosso próprio jeito.  Como diz uma mestra e amiga muito querida: Meu jeito, jeito simples, jeito imperfeito, mas meu jeito de ser. Simples.

E o que fazer quando não há mais amor, quando termina a magia, o encanto?

Se houvesse uma fórmula, acredito seria mais fácil. E automático. E mecânico. E não seriamos nós mesmos. Cada um irá como minha amiga, encontrar seu jeito. Uns precisam dizer e saber tudo, em detalhes.  Creio que isso está ligado a uma insegurança enorme. Outros simplesmente somem. Desaparecem. Vão lamber suas feridas, esperar seus bicos renascerem, suas penas renovarem-se e voltam a buscar mais amor. Principalmente os que tem o coração lotado. E não são todos não. A grande maioria não aprendeu a amar. Espera um pouco? Tem um jeito certo de Amar? Claro que não.

Mas não aprendemos a doar-nos, a perdoar, exceto o que a cultura religiosa (não confundir com religião) nos impregnou. Mas quando chegamos às relações não sabemos como fazer isso. Mas ainda acredito no diálogo profundo. Por isso somos sofistas nas relações. Dizemos verdades, omitimos outras e algumas mentiras, por amor, são necessárias.



Não me venham com esta de completamente corretinhos, que o ser humano é mentiroso por natureza. Alguns apenas se controlam mais que outros. É um exercício difícil. Alguns aprendem a omitir. Pois todo mundo quer a verdade.



No fundo ninguém gosta da verdade. Mas se construirmos uma linha de respeito. Sim uma linha do tipo – até aqui você pode ir ou – ate aqui eu posso ir. O resto é meu. Minha linha de guardar, de segredos, de coisas só minhas. Minha intimidade. Minha dignidade. Se não tivermos isso não seremos nós mesmos e sim autômatos.

Nietzsche afirmava que os poderes, para qualquer coisa, estão dentro de nós. O teste de um herói (o super homem de Assim Falou Zaratustra) é lutar contra os sentimentos de perda, superá-los, não evitá-los. Se não conseguimos é porque algo ou alguém está nos segurando.

Então ame, do seu jeito. À vontade. Ame muito, mas mantenha uma linha só sua e não esqueça que o outro lado também terá uma linha. Quando um avançar sobre esta linha acaba. Termina. Finito. Adeus. Simples assim e não adianta ficar choramingando pelos cantos.

Então, parece-me, que o respeito ao outro está em delimitar uma linha. Não ultrapassá-la e experienciar. Sim, não tem outro jeito. Só o seu jeito. Pode pensar... Não dói. Já amar...



-

·         Jornalista e Prof. de Comunicação

P. Fundo – RS – Primavera - 2011-09-27

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A CASA da FAZENDA



A casa da fazenda,
era uma casa tão grande...
tinha as paredes escuras
a pintura envelhecida,
enfeitada com brancas cortinas
deste modo ficava clara e arejada
com ares de embranquecida.

Lá fora a rota do vento
pensava que a noite era sua
batia a porta do celeiro,
espalhava os gravetos,
derrubava os frutos das árvores
que escondiam os reflexos da lua.

No escuro da noite
naquela fazenda
as estrelas salpicavam
a textura rústica
do tapete de palha,
assim completava o bordado
das brancas cortinas de malha.

Naquela casa tão grande
havia objetos antigos:
artesanato de terracota,
uma minúscula bandeja
com duas xícaras de chá,
almofadas, quadros, flores,
a iluminaria cor de bronze
incidia uma luz tosca
sobre os polidos puxadores.

Ficava tudo em ordem
na casa da fazenda
uma mesa abençoada
nunca faltava o pão,
cadeiras com tiras trançadas,
sempre limpinho o chão,
um grande baú cheio de sonhos
servia de banco ao fechar,
também haviam dias ensolarados
e muita história pra contar.


(Leslie Bravin)