quinta-feira, 26 de abril de 2012

A MANSIDÃO



A mansidão eu amo e sempre que entro
pelos ermos umbrais da escuridão
abro os olhos para enchê-los
da doçura dessa paz.

A mansidão eu amo sobre todas
as coisas deste mundo.

Na quietude das coisas eu descubro
um canto enorme e mudo.
E quando elevo os olhos para o céu
nos estremecer das nuvens eu encontro,
na ave que cruza o espaço e até no vento
a doçura que fluida mansidão


PABLO NERUDA

domingo, 15 de abril de 2012

ENTRE PARTIR E FICAR


(Rarindra Prakarsa)


Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.


A tarde circular é uma baia:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.


Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.


Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.


Pulsar do tempo que em mima têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.


A luz faz do muro indiferente
um espectral teatro de reflexos.


No centro de um olho me descubro;
não me vê, não me vejo em seu olhar.


Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa.


(Octávio Paz)