segunda-feira, 29 de setembro de 2008

MACHADO DE ASSIS






Hoje comemora-se o centenário do falecimento de um grande brasileiro: Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS, um carioca que nasceu em 21 de junho de 1839 e, por ter amado tanto aquela cidade, despediu-se da vida terrena no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908.

Foi romancista, contista, poeta e teatrólogo, considerado um dos mais importantes nomes da literatura do Brasil.

Sua vasta obra inclui também crítica literária. É considerado um dos criadores da crônica no país, além de ser importante tradutor, vertendo para o português obras como Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo e o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe.

Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, também chamada de Casa de Machado de Assis.

Foi casado com portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais a quem dedicou o poema abaixo.

CAROLINA


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos


Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
Machado de Assis, 1906



sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Um bolo para o final de semana


Não é pra me gabar, mas bolo de fubá igual ao meu é muuuuuuuuuuito difícil! E, como não sou nem um pouco egoísta, passo a vocês a receita.


BOLO DE FUBÁ DA MIMA (que era da avó, da mãe...)

4 colheres (sopa-bem cheias) de margarina
2 xícaras (chá) de açúcar
5 ovos
1.1/4 xícara de leite ou 1 vidro de leite de côco + 1/4 xícara (chá) de leite
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 xícara (chá) de fubá mimoso
1 colher (sopa) de fermento em pó
- cubinhos de goiabada ou erva-doce (opcionais)
Modo de fazer

1. Na batedeira bata muito bem a margarina com as gemas, o açúcar e um pouco de leite.
2. Adicione alternativamente a farinha de trigo, o fubá e o leite, batendo sempre muito bem.
3. Incorpore o fermento em pó.
4. Bata as claras em neve e misture delicadamente à massa.
5. Se for usar erva-doce, adicione juntamente com as claras.
6. Toda essa massa deve ser colocada em forma redonda, de buraco no meio devidamente untada e enfarinhada.
7. Sobre a massa coloque os cubinhos de goiabada passados na farinha de trigo (devem ser passados mesmo na farinha de trigo para que não afundem e queimem)
É isso aí!!! Façam e depois me contem se é ou não é maravilhoso!!!

Ah, se gostarem, depois de que o bolo esteja virado no prato, pode ser polvilhado com açúcar e canela... também fica delicioso!!!
Ponham na mesa uma linda toalha, coem aquele cafezinho e... curtam o Bolo da Fubá da Mima.



quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um pouco de Drummond


Eu preparo uma canção

em que minha mãe se reconheça,

todas as mães se reconheçam,

e que fale como dois olhos.


Caminho por uma rua

que passa em muitos países.

Se não me vêem, eu vejo

e saúdo velhos amigos.


Eu distribuo um segredo

como quem ama ou sorri.

No jeito mais natural

dois carinhos se procuram.


Minha vida, nossas vidas

formam um só diamante.

Aprendi novas palavras

e tornei outras mais belas.


Eu preparo uma canção

que faça acordar os homens

e adormecer as crianças.

VIOLINOS NÃO ENVELHECEM - Rubem Alves








Eu a escrevi faz muito tempo - uma estória de amor. Quem a leu, eu sei, não se esqueceu.
Por razão do dito pela Adélia: " o que a memória ama fica eterno".
História de amor não inventada, acontecida, tão comovente quanto Romeu e Julieta, Abelardo e Heloísa. O que fiz foi só registrar o acontecido.
Preciso contá-la de novo, para benefício daqueles que não a leram pela primeira vez, e a fim de acrescentar um final novo, inesperado, acontecido depois.
A testemunha que me relatou o sucedido foi sobrinho, médico-músico, pessoa querida e bonita.
Atrasou-se para um compromisso na minha casa, chegou três horas depois, explicando que havia ido ao velório de um tio de 81 anos de idade que morrera de amor. Parece que seu velho corpo não suportara a intensidade da felicidade tardia, e os seus músculos não deram conta do jovem que, repentinamente, dele se apossara.
O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência. Mas naqueles tempos havia uma outra Aids, chamada tuberculose, que se comprazia em atacar as pessoas bonitas, os artistas, os apaixonados - esses eram os grupos de risco.
Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois, alojou-se nos pulmões do moço, que teve de ir em busca de ar puro, no alto das montanhas, sanatório, tal como Thomas Mann descreve em seu livro - "A montanha mágica".
Quem ia para tais lugares despedia-se com um "adeus", um olhar de "nunca mais". Na melhor das hipóteses, muitos anos haveriam de passar antes do reencontro.
Imagino o sofrimento da jovem dividida: o corpo, naquela casa, a alma por longe terra! Na vida daquela menina, que surda, perdida guerra... (Cecília Meireles).
Valeram mais os prudentes conselhos da mãe e do pai: não trocar o certo pelo duvidoso. Vale mais um negociante vivo que um tuberculoso morto. E aconteceu com ela o que aconteceu com a Firmina Dazza, que de longe e às escondidas namorava o Fiorentino Ariza, na estória de Gabriel García Márquez "Amor nos tempos do cólera", que foi obrigada pelo pai a se casar com o doutor Urbino: não se troca um médico por um escriturário. Casou e com ele ficou até que, depois de 51 anos, veio a libertação...
Ela casou. Ele casou. Nunca mais se viram. Quando ele tinha 76 anos, ficou viúvo. Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele estava vivo. A curiosidade e a saudade foram fortes demais. Foi procurá-lo. Encontraram-se. E, de repente, eram namorados adolescentes de novo. Resolveram casar-se. Os filhos protestaram. Eles, os filhos, todos os filhos, não suportam a idéia de que os velhos também têm sexo. Especialmente os pais. Pais velhos devem ser fofos, devem saber contar estórias, devem tomar conta dos netos. Mas velho apaixonado é coisa ridícula. Não combina. Mais detalhes no livro da Simone de Beauvoir sobre a velhice.
E houve também aquela estória do programa "Você decide" o velho pai, infeliz a vida inteira com a esposa, encontra uma mulher por quem se apaixona.
A pergunta: ele deve ou não deve deixar a esposa para viver o novo amor? Você decide... A decisão do público - os filhos, evidentemente: "Não, ele não deve viver o novo amor..." Os filhos sempre decidem contra o amor dos pais.
Mas, na nossa estória, os dois velhos deram uma solene banana para os filhos e foram viver juntos em Poços de Caldas. Viveram um ano de amor maravilhoso, e ele até começou a escrever poesia e voltou a tocar o violino que ficara por mais de 50 anos sobre um guarda roupa, porque a esposa não gostava de música de violino.
Confessou ao sobrinho: "Se Deus me der dois anos de vida com esta mulher, minha vida terá valido a pena..." Bem que Deus quis. Mas o corpo não deixou. Morreu de amor, como temia o Vinícius.
Achei a estória tão bonita que a transformei numa crônica a que dei um título inspirado nas Sagradas Escrituras: "...e os velhos se apaixonarão de novo".
Começa aqui o novo final para a estória.
Passaram-se semanas. Eram dez horas. Eu estava trabalhando no meu escritório. O telefone tocou. Voz aveludada de mulher do outro lado.
-É o professor Rubem Alves?
- Sim, respondi secamente. Eu sou sempre seco ao telefone.
- Quero agradecer a belíssima crônica que o senhor escreveu com o título: "...e os velhos se apaixonarão de novo". O senhor já deve ter adivinhado quem está falando...
- Não, respondi. Por vezes eu sou meio burro. Aí ela se revelou:
- Sou a viúva.
Foi o início de uma deliciosa conversa de mais de 40 minutos, interurbano, em que ela contou detalhes que eu desconhecia. O medo que ela teve quando ele resolveu mandar consertar o violino! Ela temia que os dedos dele já estivessem duros demais...
Ah! Que metáfora fascinante para um psicanalista sensível!
Sim, sim! Nem os violinos ficam velhos demais, nem os dedos ficam impotentes para produzir música!
E aí foi contando, contando, revivendo, sorrindo, chorando --- tanta alegria, tanta saudade, uma eternidade inteira num grão de areia... Ao terminar, ela fez esta observação maravilhosa:
- Pois é, professor. Na idade da gente, a gente não mexe muito com sexo. A gente vive de ternura!
Aqui termina a lição do Evangelho.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Meu tio e Helen Keller

Convivi até poucos anos com um tio, que foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, pois ele me apresentou aos poetas, aos escritores, aos compositores clássicos; foi ele quem me ensinou a prestar atenção aos sons, aos cheiros, ao tato.
Com ele aprendi a olhar o céu numa noite estrelada e a identificar as estrelas, as constelações e me enamorar da lua.
Essa sensibilidade apurada ele tinha, não só por ser uma pessoa atenta, criativa, imaginativa, mas também porque era um deficiente visual. Sua vida acadêmica foi iniciada no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro e finalizada no Padre Chico, em São Paulo, onde foi professor.
De volta à família, em Campinas, fundou com outro amigo o Instituto dos Cegos onde também foi professor. Seu nome: Benedito dos Santos Vieira, o Professor, como ele gostava de ser chamado.
Dele até se podia esquecer o aniversário, mas o Dia do Professor não... Sempre tinha comemoração: fazíamos bolo, convidávamos a família , os amigos e virava mesmo uma festa, que o deixava muito feliz.
Dentre as muitas pessoas de quem ele falava, estava Helen Keller... Então, para me lembrar mais uma vez do Tio Dito, o Professor, segue um texto de Helen Keller.

Três Dias Para Ver

O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?
Helen Keller, cega e surda desde bebê, dá a sua resposta neste belo ensaio, publicado no Reader's Digest (Seleções)

Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som.

De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. "Nada de especial", foi à resposta. Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro.

Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando. Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão!

E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias. Eu dividiria esse período em três partes.

No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas "janelas da alma", os olhos. Só consigo "ver" as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos. Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita? Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam. Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!

O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.

À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir.

No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.

Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.

Minha parada seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.

Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tacto. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.

À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restrita ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso.

Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.

Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.

Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.

Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.

Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.

Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas acho que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano.À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.

Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Mas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual.

Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.

Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos.

Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos,estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Alberto Centurião, meu amigo poeta

Sou uma pessoa muito privilegiada, pois tenho uma linda família e muitos amigos. Esses amigos são importantes, me fazem crescer, alegram minha vida cada um de seu jeito...
Dentre tantos, tenho um lindo amigo poeta - Alberto Centurião, que com sua sensibilidade coloca em versos o cotidiano, a vida, o amor, a amizade...
Aí vai um poema escrito por ele:

O artista e seu retrato quando velho

Tem vezes que a gente faz coisas que não se faz
e sabe que não devia
mas faz e depois se arrepende
e sente vergonha
medo repulsa dó desalento
mas já fez e está feito
e bate uma baita tristeza
e o coração se oprime
e um peso aperta o peito de um jeito
que o osso do peito sente a pressão
mas já não tem jeito
o que está feito está feito
então o jeito é juntar os cacos
com soldar o que sobrou
tratar de refazer o próprio ego
ferido despedaçado
o dia desperdiçado
e já que não tem conserto
o que foi feito foi feito
consertar a auto-imagem
juntando toda a coragem
para encarar no espelho do fato
o próprio auto-retrato
e decidir fazer com novos atos
novos fatos
para um novo auto-retrato
mais ao gosto do artista
que faz do gesto pincel
e na tela da vida usa o matiz da palavra
para o estudo frustrado recobrir com novas telas
mais do seu jeito mais belas
que o artista sem retoques não seria irretocável
e à custa de repintar-se o artista se reconstrói
recriando os próprios atos
até recriado inteiro tornar-se iguaria fina
o artista quando velho é a própria obra-prima

Oração de uma camponesa de Madagascar

Dentre muitas orações, tenho por esta uma terna predileção, por sua simplicidade, por sua generosidade... É o agradecimento em forma de trabalho e amor pela família...


Senhor, dono das panelas e das marmitas,
não posso ser a santa que
medita aos Vossos pés.

Não sei bordar toalhas para o Vosso altar.

Então, que eu seja santa ao pé do meu fogão.

Que o Vosso amor acenda a chama
que eu acendi pela manhã,
e me faça calar a vontade de gemer,
às vezes, minha tristeza.

Eu tenho as mãos de Marta mas quero
ter também as mãos de Maria.

Quando eu lavar o chão,
lavai, Senhor, os meus pecados.

Quando eu puser na mesa a comida,
comei também, Senhor, junto conosco.

É ao meu Senhor que eu sirvo,
servindo minhas crianças.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Assim eu vejo a vida - Cora Coralina

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança dos valores
que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Hoje está um dia lindo! Um lindo dia pra abrir este blog...
Quero que aqui seja um ponto de encontro, onde eu possa receber os amigos, mostrar as poesias e os poetas de quem gosto...
A criançada também será bem-vinda, pois aqui encontrarão também as estórias que a Vovó Mima gosta de contar para as netas...
Abraços cheios de carinho.