segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um menino sentado em um muro de Roma viu um homem lá embaixo, que batia numa pedra com um martelo.

Gritou-lhe: "O que você faz?"

O homem virou-se lentamente e disse:

"Há um anjo dentro da pedra e ele está querendo sair."

O homem era Michelângelo.


terça-feira, 30 de julho de 2013

DÁ DE TI

Dá de ti
talento, energia, coração
para os homens e mulheres,
como as árvores dão,
como as fontes dão.

Dá de ti.
não só os sapatos que não usas mais,
não só a capa que não usas no verão.
Darás tudo o que fores e
darás tudo o que puderes,
de talento, energia e coração.
Darás sem refletir, sem ser notado,
de modo que ninguém te diga obrigado,
nem te deva dinheiro ou gratidão.
E com que espanto notarás um dia,
que viveste fazendo economia,
de talento, energia e coração.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

POEMA PATÉTICO


Que barulho é esse na escada?
É o amor que está acabando,
é o homem que fechou a porta
e se enforcou na cortina.

Que barulho é esse na escada?
É Guiomar que tapou os olhos
e se assoou com estrondo.
É a lua imóvel sobre os pratos
e os metais que brilham na copa.

Que barulho é esse na escada?
É a torneira pingando água
,
é o lamento imperceptível
de alguém que perdeu no jogo
enquanto a banda de música
vai baixando, baixando de tom.

Que barulho é esse na escada?
É a virgem com um trombone,
é a criança com um tambor,
o bispo com uma campainha
e alguém abafando o rumor
que salta de meu coração.

(Carlos Drummond de Andrade)




terça-feira, 28 de maio de 2013



TENTA ESQUECER-ME

Tenta esquecer-me...
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma... Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fuindo...
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a trusteza dis ruis
É não poder parar!

(Mário Quintana)

sábado, 18 de maio de 2013

domingo, 7 de abril de 2013

VER VENDO






De tanto ver, a gente banaliza o olhar - vê... não vendo.

Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver.

Parece fácil, mas não é: o que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade.

O campo visual da nossa retina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.

Se alguém lhe perguntar o que você vê no caminho, você não sabe.

De tanto ver, você banaliza o olhar.

Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório.

Lá estava sempre, pontualíssimo, o porteiro.

Dava-lhe bom-dia e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência.

Um dia o porteiro faleceu. Como era ele?

Seu rosto? Sua voz? Como se vestia?

Não fazia a mínima ideia.

Em 32 anos nunca conseguiu vê-lo.

Para ser notado, o porteiro teve que morrer.

Se um dia, em algum lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode ser, também,
que ninguém desse por sua ausência.

O hábito suja os olhos e baixa a voltagem.

Mas há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê que o adulto não vê.

Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo.

O poeta é capaz de ver pela primeira vez, o que de tão visto, ninguém vê.

Há pai que raramente vê o filho.

Marido que nunca viu a própria mulher.

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos... é por aí que se instala no coração
o monstro da indiferença.


Otto Lara Rezende




quarta-feira, 20 de março de 2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A ALMA



A alma escolhe sua companhia
E fecha a porta, depois.
Em sua augusta suficiência,
Cessam as intromissões.

Indiferente, vê as carruagens
Parando junto ao portão;
Indiferente, um rei de joelhos
Sobre suas alfombras.

Sei que, dentre uma vasta multidão,
Ela escolheu um ser apenas;
Depois, cerrou as aldravas de sua atenção,
Feito pedra.

(Emily Dickinson)





sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

25 DE JANEIRO - ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO

Em 25 de janeiro de 1554 foi fundada a cidade de São Paulo. Hoje, portanto, é comemorado seu 459º ano. 

Vida longa e feliz a essa cidade que a todos acolhe com generosidade e calor humano.


sábado, 19 de janeiro de 2013

SILÊNCIO



Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece
desembocamos no silêncio
onde os silêncios se emudecem.

(Octávio Paz)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


RECEITA DE CASA



Uma casa deve ter varandas para sonhar,
cantos confortáveis para chorar,
sala bonita para os amigos bem receber,
cantos para os segredos desabafar,
para as confidências, e para o bem amar.

Uma casa precisa um ninho ser,

pois o amor precisa de espaço para crescer,
de alguns empurrões para saltar e voar,
muita liberdade para querer ficar,
alguns espaços para conceber e procriar,
jardins para a alegria plantar.

Uma casa precisa de muito amor,

cuidados para não ter medo de alguém partir,
um pouco de ciúmes para proteger,
amizade para o companheirismo perdurar,
o dom de sempre surpreender,
e enfeitiçar sempre para durar.

Uma casa precisa ser um bom e doce lar,

com muita cumplicidade a esbanjar,
união e somatório para ter sempre o que dar,
família grande para ter a vida sempre a se doar,
um grande amor - lógico - para nos realizar.

(Lya Luft)