domingo, 15 de abril de 2012

ENTRE PARTIR E FICAR


(Rarindra Prakarsa)


Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.


A tarde circular é uma baia:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.


Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.


Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.


Pulsar do tempo que em mima têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.


A luz faz do muro indiferente
um espectral teatro de reflexos.


No centro de um olho me descubro;
não me vê, não me vejo em seu olhar.


Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa.


(Octávio Paz)


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