quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nossas Relações Sofistas?



·         J. C. Protheus Bortoloti



“... Amei até a loucura. O que chamam de loucura é,

para mim, a única forma sensata de amar....!



Françoise Sagan


                                 A pergunta tem-me sido feito constantemente. Como se fosse um expert de análise do assunto. Muito pelo contrário. Mas nas Últimas duas semanas, coincidência (não acredito nela) ou não a pergunta veio em cascata: O que esta acontecendo com as relações? Minha singela resposta: Nada!

Sim. Não está acontecendo nadinha. Sempre foram assim ou piores. Então, o que está mudando? E quem disse que está mudando?

Devido à libertação, conquistada, do pensamento feminino? Não. Pois, as relações homossexuais também têm problemas nas relações. Você poderá dizer: Ah, mas com eles, os homossexuais, são muito menores. Claro. Eles também são em menor número. Ao menos os oficiais.

Mas,  vamos por outro caminho.

Você sabe o que é sofismo?

 Sofisma  - fazer raciocínios capciosos. Em filosofia, é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verossímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular, uma ilusão de verdade, apresentando-a sob esquemas que aparentam seguir as regras da lógica. Nos dias de hoje seria quase que uma falácia.



Sintetizando: O sofisma aponta para a produção de uma ideia que mistura realidade e fantasia, ou verdade e mentira, com o  intuito de conquistar o ouvinte ou o outro lado.

Mas vamos parar por aqui na escola filosófica e retornar as nossas relações.

Você já identificou que fazemos isso?

O quê? O acima.

Não?

Vamos analisar juntos. Fazemos de tudo pela conquista (ambos os lados), viramos do avesso, sacrifícios enormes, e tudo o resto que cada um conhece a sua maneira.

Quando conquistamos ou queremos mudar ou o outro quer nos mudar. Já não servimos mais. Já não somos perfeitos, precisamos de alguns consertos.  E assim vai cada relação.

No fundo deixamos de ser nós mesmos em nome do tal de amor.



O que mudou?

Estamos nos conhecendo um pouco mais, estamos parando, mesmo que pouco, para pensar mais em nós mesmos. Adentrar nas entranhas  de nós mesmos é perigosíssimo. E um exercício para poucos. Mas alguns estão conseguindo. Outros não.



As pessoas estão se preocupando mais em ser do que ter o outro só por ter. Os amores ou são mais profundos, ou só ´fica´ , como dizem os adolescentes. Mesmo que ´ficar´ muitas vezes tenha tudo do resto de uma relação natural.E normal. Mas é do tipo – pode ser rompido a qualquer momento sem dano – parece que eles já descobriram, mas continuam procurando o grande amor.

Em seguida vem à outra pergunta, quase grudada na primeira: Mas porque é tão difícil dar certo?

Creio que esta inserida na primeira resposta. Queremos, tal qual uma transferência lacaniana, alterar, mudar, `aperfeiçoar´  o outro. No fundo estamos transferindo nossas inseguranças, pois quem realmente precisa de uma mudança geral por dentro, em todos os sentidos, é exatamente quem tenta mudar.

Mas e depois, vem a terceira:

Calma não termina assim tão fácil:

Mas quando está dando certo, porque nos acomodamos?

Bem, creio que é retórica. Pois a resposta esta inserida na própria pergunta. Eu diria que é pragmático, mas você responderia que seria puro exercício de semântica. Este comodismo, na verdade, significa que, no fundo, fizemos tudo, meramente emocional. Sim. O amor é racional. Nietzsche afirmou e morreu defendendo isso. Mesmo que apaixonado. Tudo bem. Nem ele foi perfeito em sua única tentativa de relação. Imaginária, já que só existiu na sua mente.

Pode ver que quando começa uma relação, ambos, querem saber tudo do outro. Mas tudo mesmo.  O argumento: conhecer o outro profundamente. Mentira. É apenas uma forma de ver se nossos defeitos poderão ser defrontados ou pior, confrontados, sem nenhum problema pelo outro lado. Ou controle. Agora quase opositor. E geralmente vamos à busca de todos os detalhes. Outra resposta: É para não errar!

Mentira. As perguntas são feitas porque sempre foram feitas. Amamos desta forma, pois sempre vimos, presenciamos, lemos que é assim. Nunca buscamos o nosso próprio jeito.  Como diz uma mestra e amiga muito querida: Meu jeito, jeito simples, jeito imperfeito, mas meu jeito de ser. Simples.

E o que fazer quando não há mais amor, quando termina a magia, o encanto?

Se houvesse uma fórmula, acredito seria mais fácil. E automático. E mecânico. E não seriamos nós mesmos. Cada um irá como minha amiga, encontrar seu jeito. Uns precisam dizer e saber tudo, em detalhes.  Creio que isso está ligado a uma insegurança enorme. Outros simplesmente somem. Desaparecem. Vão lamber suas feridas, esperar seus bicos renascerem, suas penas renovarem-se e voltam a buscar mais amor. Principalmente os que tem o coração lotado. E não são todos não. A grande maioria não aprendeu a amar. Espera um pouco? Tem um jeito certo de Amar? Claro que não.

Mas não aprendemos a doar-nos, a perdoar, exceto o que a cultura religiosa (não confundir com religião) nos impregnou. Mas quando chegamos às relações não sabemos como fazer isso. Mas ainda acredito no diálogo profundo. Por isso somos sofistas nas relações. Dizemos verdades, omitimos outras e algumas mentiras, por amor, são necessárias.



Não me venham com esta de completamente corretinhos, que o ser humano é mentiroso por natureza. Alguns apenas se controlam mais que outros. É um exercício difícil. Alguns aprendem a omitir. Pois todo mundo quer a verdade.



No fundo ninguém gosta da verdade. Mas se construirmos uma linha de respeito. Sim uma linha do tipo – até aqui você pode ir ou – ate aqui eu posso ir. O resto é meu. Minha linha de guardar, de segredos, de coisas só minhas. Minha intimidade. Minha dignidade. Se não tivermos isso não seremos nós mesmos e sim autômatos.

Nietzsche afirmava que os poderes, para qualquer coisa, estão dentro de nós. O teste de um herói (o super homem de Assim Falou Zaratustra) é lutar contra os sentimentos de perda, superá-los, não evitá-los. Se não conseguimos é porque algo ou alguém está nos segurando.

Então ame, do seu jeito. À vontade. Ame muito, mas mantenha uma linha só sua e não esqueça que o outro lado também terá uma linha. Quando um avançar sobre esta linha acaba. Termina. Finito. Adeus. Simples assim e não adianta ficar choramingando pelos cantos.

Então, parece-me, que o respeito ao outro está em delimitar uma linha. Não ultrapassá-la e experienciar. Sim, não tem outro jeito. Só o seu jeito. Pode pensar... Não dói. Já amar...



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·         Jornalista e Prof. de Comunicação

P. Fundo – RS – Primavera - 2011-09-27

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