quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SER, TER OU PARECER?



Estimulado pela “SP Fashion Week”, me pus, mais uma vez, a pensar sobre o que pretendemos com o que nos cobre – além de nos protegermos contra o frio e a vergonha. O tema é o da vaidade, esse prazer erótico fortíssimo presente em todos nós e que nos leva ao desejo de chamar a atenção, despertar olhares de admiração. Não adianta tentarmos nos livrar da vaidade, pois ela é parte integrante do nosso instinto sexual. Buscamos o destaque.

Ao comprarmos novas peças já levamos em conta o impacto que causarão. Ao nos prepararmos para sair, nos sentimos erotizados imaginando a reação “dos outros”. Buscamos usar o que melhor nos veste, o que nos caracteriza, o que nos faz atraentes. Gastamos uma boa parte do nosso tempo diante do espelho, tentando aprimorar nossa imagem.

Gostamos de parecer especiais e nos preocupamos bastante com nossa aparência (inclusive aqueles que adoram parecer desleixados!). Algumas pessoas gostam que sua imagem reflita aquilo que são: esportistas, intelectuais, artistas, membros de uma tribo tipo “góticos” ou “punks”, empresários de respeito, senhoras joviais e assim por diante. Tratam de usar roupas e adereços típicos, compondo sua imagem de forma discreta ou estravagante de acordo com o que pretendem transmitir.

Outras pessoas gostam de se exibir de acordo com o que têm, refletindo mais que tudo sua condição econômica: usam relógios caros, bolsas e sapatos de grifes renomadas – o que também lhes garantem um reforço de que são pessoas na moda e de gosto apurado –, jóias poderosas etc.

Outras ainda são fascinadas pela beleza das peças que muitas vezes são também as mais caras, sendo que têm os meios para se cobrir com elas. A preocupação maior é estética, de modo que costumam estar mais preocupadas com a qualidade do que com a quantidade do que possuem. Elas parecerão de acordo com o que são e têm. Vejo coerência nas atitudes das pessoas que se encaixam nos 3 casos. Penso que, além de se sentirem envaidecidas pelos eventuais elogios recebidos, poderão se sentir bem do ponto de vista da auto-estima – que só se alimenta de atitudes e conquistas verdadeiras.

O que pensar, porém, daqueles que parecem o que não são ou não têm? Como fica a autoestima daquela mulher que usa as roupas mais extravagantes e que se sabe sexualmente travada? Como se sente quem chama a atenção dos conhecidos por desfilar com uma bolsa ou relógio falsos? E aquele que se veste e age como intelectual e que jamais leu um livro? Não há auto-estima que resista! Penso que “o crime não compensa”, pois não há “mutreta” possível quando se trata da vida íntima. Seria muito melhor usar a imaginação e encontrar uma outra forma, mais criativa, de se apresentar diante dos olhos das outras pessoas.

Flávio Gikovate

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