sobre um carnal de pelego,
e, assim, desde borrego,
arrucinando na infância,
foi se criando, à distância,
repontando a liberdade,
vivendo a imensidade
dos campos grandes da estância.
Aprendera quase tudo,
sempre na lida campeira,
desde laçar, na mangueira,
um bagual para domar;
e, depois, lhe ensinar,
numa disputa tamanha,
que o homem é quem ganha,
pois sabe ouvir e pensar.
depois terneiros e potros;
e até já ensinava aos outros
segredos da profissão:
fazer fogo sem tição,
assar carne no mormaço,
ou pialar de todo laço,nos dias de marcação.
E, assim, se fez índio chucro,
camperaço e destorcido,
homem guapo e conhecido
em todo aquele rincão.
Mas, dentro do coração,
algo sempre lhe dizia
que ele, um dia, deixaria
daquela vida de peão.
Trazia dentro do peito
uma vontade escondidade mudar a sua vida,
indo morar na cidade;
pois, na sua ingenuidade,pensava que um campeiro,
no cotidiano povoeiro
fosse além da realidade.
Um dia, encilhou o zaino:
bom preparo, bom arreio,
alçou o pingo no freio
e se perdeu campo a fora;
do tim-tim-rim das esporas
ficara um eco manheiro
de mais um índio campeiro,
que da querência ia embora.
Sumiu–se a figura alegre
daquele xiru gaudério;
ficou guardado o mistério
daqueles que ficaram.
Dias e anos passaram,
e o quera não mais voltou;
por certo que se arrumou,
como tantos se arrumaram.
Talvez na cidade grande,
onde existe tanto emprego.
Mesmo quem foi do pelego
há de tirar melhor vida;
ilusão que é perseguida
e apartada da verdade,
porque ao chegar à cidade
a espera é longa e sofrida.
Mas foi num final de tarde,
de um dia meio chuvoso,
na hora de pedir pouso,
como se diz pelo pago,
que surgiu um olhar vago
da peonada que mateava:
alguém se aproximava;
talvez, rondando um amargo.
Depois de um buenas tardes,
com as vestes esfarrapadas,
as melenas mal tosadas,
num jeitão de mês de agosto,
trazia estampado ao rosto
a saudade do galpão;
e até mesmo o chimarrão,
que já esquecera do gosto.
Ainda disse, ao chegar,
que, além de pedir pousada,
vinha de longa jornada,
e a fome já o dominava;
e o sinuelo que buscava,
da cidade onde sonhou,
espantou–se, se apartou
da tropa que repontava.
Depois que a peonada alegre
reconheceu o vivente,
no seu instinto experiente
foi dizendo aos companheiros:
embora seja matreiro
o que se chama destino,
jamais será citadino
quem nasceu chucro e campeiro!
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