(Dedicado a Lídia, minha ama negra)
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos,nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...
Resistência Africana-Antologia Poética, Diabril Editora, 1975 - Lisboa, Portugal
Um pouco de Alda Lara
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. nasceu em Benguela, Angola, em 09.6.1930 e faleceu em Cambambe, Angola, em 30.1.1962.
Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu.
Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos.
Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prêmio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI).
Obra poética:
Poemas, 1966, Sá de Bandeira, Publicações Imbondeiro;
Poesia, 1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos;
Poemas, 1984, Porto, Vertente Ltda. (poemas completos).
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