sexta-feira, 7 de agosto de 2009

SER PAI - Arthur da Távola



Ser pai
é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai
é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso.
É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser pai
é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar.
É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários,
buscando protegê-los sem que percebam,para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser pai
é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir.
Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que,
a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos
a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser pai
é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher,ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser pai

é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho,
sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar,ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser pai
é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja,projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender;
de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte,mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser pai

é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno,por tudo haver feito para deixar de ser importante.

Nenhum comentário: